Exossomas: a nova revolução na cosmética

Publicado a 22 Fevereiro, 2025

Exossoma é o palavrão da moda desde que entramos em 2025. Nos últimos anos, tem vindo a crescer o interesse por estas vesículas, não só na cosmética como na biomedicina. Na verdade, o termo não é novidade para quem está na área da saúde, porque há muitos anos que se estuda o papel dos exossomas na progressão e no tratamento de doenças. Mas a tecnologia dos exossomas promete revolucionar o mercado da cosmética nesta década, tornando a entrega de ativos mais eficiente e seletiva, com potencial para tratar disfunções cutâneas de forma mais direcionada.

O que é um exossoma?

Exossomas são vesículas formadas pelos constituintes naturais do nosso organismo e servem como transmissores ou veículos de transporte de proteínas, lípidos, fatores de crescimento, entre muitas outras moléculas. Podemos dizer que é uma mini-célula, cerca de 10x mais pequena do que uma célula animal. A sua membrana, composta por uma bicamada lipídica semelhante à das células humanas, permite que os exossomas se fundam com células-alvo específicas, facilitando a entrega eficaz do seu conteúdo.

Sem sabermos, em 2020 iniciámos uma década de grande desenvolvimento na área da cosmética, e o segredo pode estar nesta estrutura biológica! Cada exossoma pode transportar centenas de moléculas bioativas, incluindo os tão bem conhecidos colagénio, ácido hialurónico e péptidos, desempenhando papéis distintos na regeneração e reparação celular. Uma vez que estas estruturas têm a capacidade de entregar as suas “encomendas” na célula-alvo pré-definida, acredito que possam ser o segredo para tratamentos direcionados e cada vez mais personalizados.

Exossoma

Vamos deixar de utilizar lipossomas nos produtos?

Lipossomas e exossomas, embora sejam estruturas parecidas, têm uma diferença crucial que será a principal razão pela diferença de preços e pela eficácia do tratamento. Ainda que ambos sejam usados para veicular ativos, os lipossomas não possuem, na sua superfície, proteínas de reconhecimento celular, tornando a entrega dos ingredientes menos seletiva. Isto é, um lipossoma distribui o seu interior por todas as células com que funda. Já com exossoma, prevê-se que apenas se funda com a célula-alvo com que teve interação.

Por exemplo, vamos supor que um paciente que tenha melasma e pele sensível quer fazer um tratamento às suas hiperpigmentações e tem de escolher a sua rotina de skincare. Sabendo que os ativos necessários para tratar manchas podem afetar a sensibilidade da pele, piorando a sua tolerabilidade aos produtos, a inclusão de um cosmético anti-manchas formulado com exossomas seria a solução. Passo a desenvolver: se incorporarmos retinóides, arbutina ou outros despigmentantes num exossoma, garantimos a sua entrega direta aos melanócitos (células que produzem melanina e são responsáveis pela alteração da pigmentação) e não afeta, por exemplo, as células de Langerhans, que são responsáveis pela ativação da função imunológica que desencadeia a inflamação e exacerba a sensibilidade. Como podem ver, para pacientes como este, o custo parece-me bem justificado.

Haverá muita diferença de preço? Vamos tornar-nos dependentes de exossomas?

Devido à complexidade do isolamento, purificação e incorporação de exossomas estáveis em formulações cosméticas, prevê-se um aumento significativo no custo de produção. No entanto, ainda não sabemos de que forma a indústria cosmética vai gerir os seus lucros. Se as marcas mantiverem a margem de lucro atual, os custos de investigação e desenvolvimento terão de ser compensados, podendo resultar num aumento inicial do preço dos produtos, até que a produção em larga escala seja otimizada. Ainda assim, parece que vamos ter esperar para ver, porque este processo é longo e duradouro. Ao consumidor só resta aguardar e assistir à correria das marcas (como em todas as modas, o primeiro a lançar a novidade anda na boca do povo durante meses, e esta é uma taça que todas as equipas querem ganhar).

Quanto à necessidade da tecnologia, sei que vou recomendar a muitos pacientes pelo motivo que expliquei anteriormente. Será uma mais-valia fantástica, e avanços tecnológicos como este são muito bem-vindos. No entanto, não posso afirmar que será a solução para todos os problemas. Enquanto cientista, prevejo alguns percalços e muitos anos de otimização. Prevejo dificuldades de inclusão de ativos nas vesículas, pureza das partículas, garantias da concentração de ingredientes, dificuldade em manter estável o tamanho das vesículas e complicações na entrega dos ativos por camadas. Mas, tal como em tudo na vida, a experiência torna-nos mais profissionais e a competitividade pelos melhores exossomas acelera a otimização. Até ao final desta década, espera-se que os tratamentos baseados em exossomas sejam cada vez mais específicos, reduzindo efeitos adversos e aumentando significativamente a eficácia.

Adriana Lemos